João Neutzling Jr.

Timor Leste, do sonho ao pesadelo

Por João Neutzling Jr.
Economista, mestre em Educação, auditor estadual, pesquisador e professor
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Na década de 70, Portugal permitiu a independência de suas colônias mundo afora (descolonização), principalmente na África, onde eram famosos os Palops (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Porém, havia uma antiga colônia que depois da independência foi literalmente sequestrada: Timor Leste.

O Timor é uma ilha com 15 mil quilômetros quadrados e com população atual de 1,3 milhão, localizada no sudeste asiático. Tem população majoritariamente católica e o idioma português é o mais falado na ilha. Sua independência ocorreu em 28 de novembro de 1975, há 47 anos. O sonho do povo timorense era sua autonomia, mas logo virou um pesadelo.

O país foi invadido pelo poderoso exército da vizinha Indonésia em 7 de dezembro do mesmo ano. O que se seguiu foi banho de sangue e um morticínio. A invasão ocorreu com explícito apoio de Henry Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos, conforme "East Timor truth commission finds U.S. political and military support were fundamental to the Indonesian invasion and occupation" (The National Security Archive, 24 January 2006).

A Indonésia era então governada pelo militar Hadji M. Suharto (1921-2008), que assumiu o poder por meio de um golpe de Estado em 1967 (apoiado pelos EUA) e governou até 2008. Em 12/12/1975, a Assembleia Geral das Nações Unidas emitiu uma resolução que "deplorou fortemente" a invasão de Timor Leste pela Indonésia, exigindo que Jacarta retirasse as tropas imediatamente e permitisse aos habitantes da ilha exercer o seu direito à autodeterminação. Pouco adiantou.

O governo indonésio de ocupação começou uma política de limpeza étnica e brutal violação dos direitos humanos. O idioma português foi proibido e substituído pelo bahasa indonésio. Dezenas de aldeias foram destruídas pelos bombardeios do exército da Indonésia, sendo que foram utilizadas toneladas de napalm (fornecida pelos Estados Unidos) contra a resistência timorense. O uso do produto queimou boa parte das florestas do país, além de danificar totalmente as propriedades rurais.

O papa João Paulo II visitou o Timor em 1989, manifestando seu apoio pela pacificação do conflito. Em represália, o exército indonésio massacrou mais de 300 timorenses civis.

Em 1996, o Prêmio Nobel da Paz foi outorgado aos timorenses bispo Carlos Ximenes Belo e ao advogado José Ramos Horta, fato que mostrou ao mundo a luta do Timor pela sua autonomia.

Em 1999 ocorreu um plebiscito onde o povo votou em peso pela independência da ilha. Tropas paramilitares indonésias começaram a destruir tudo antes da evacuação. A capital Dilli teve sua central elétrica incendiada, o único hospital foi dinamitado, escolas destruídas, rede de telefonia danificada, lavouras incendiadas, etc. As estimativas são de que mais de 270 mil timorenses foram assassinados nos quase 30 anos de ocupação.

Muitos filmes narram os horrores a atrocidades dos indonésios como A Guerra de Beatriz, dirigido por Luigi Acquisto (2013), e Timor Lorosae - O massacre que o mundo não viu, dirigido pela atriz brasileira Lucélia Santos (2001).

Hoje o Timor luta pelo desenvolvimento do país. Ninguém da Indonésia foi condenado pelo Tribunal Penal Internacional pelos crimes, que ficaram impunes.​

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